quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Pescar Tubarões em Recife para Evitar Ataques:
Atitude Correta ou Sensacionalismo?


  Quando um grupo de cidadãos se reúne para incentivar a matança de seres vivos na Natureza, devemos nos alertar sobre algo estar muito errado. Ou essas pessoas estão radicalizando de forma imprudente ou estão usando a questão como mera plataforma midiática para ter visibilidade à custa de sensacionalismo. Sendo a segunda opção, eles já foram bem-sucedidos.
  No Jornal Nacional (Rede Globo) do último sábado, dia 19, William Bonner abriu a matéria “Incentivo à Pesca de Tubarões em Recife revolta ambientalistas em Pernambuco” dizendo que um grupo de cidadãos criou um movimento em Pernambuco que incentiva a captura de tubarões no estado. Mais à frente, a repórter diz que, em função dos 57 ataques com 21 fatalidades (números incorretos) nos últimos 20 anos, o medo dos tubarões se espalhou e chegou ao ponto de um grupo se reunir para combinar estratégias para evitar novos ataques. O movimento, que se denomina Propesca, defende a captura dos animais, fornece material para os pescadores e até oferece uma recompensa em dinheiro.

  A matéria diz ainda que o grupo, formado por engenheiros de pesca, biólogos e médicos, defende também a instalação de uma tela de aço galvanizado ao longo dos 16 quilômetros de litoral como medida protetora. E o coordenador do grupo, Bruno Pantoja, afirma em tom de ameaça (ou chantagem): “a partir do momento que forem implantados os sistemas de segurança que nós propomos, nós cessamos todas as ações de captura”.

  Eu poderia simplesmente dizer que se trata de um grupelho de ineptos que age de forma irresponsável, mas, em benefício do esclarecimento, arrolo abaixo o que penso sobre o assunto.


1 – Incentivar a captura dos tubarões para evitar ataques

  Achar que eliminando os tubarões eles acabarão com os ataques é um pensamento lógico, mas completamente absurdo e antiecológico. É tão óbvio e absurdo quanto dizer que acabando com os leões, elefantes e hipopótamos na África cessarão os ataques desses animais. E é antiecológico porque os tubarões exercem um papel crucial na manutenção da saúde e do equilíbrio dos ecossistemas marinhos, incluindo o litoral pernambucano, e, sem a presença deles, as consequências serão imprevisíveis. 

2 – Contribuir para a imagem sensacionalista e irreal dos tubarões

  Ao acreditar que a solução para dar segurança nas praias passa por “limpar as águas infestadas por essas feras”, essas pessoas contribuem para fortalecer a distorcida imagem do tubarão como um animal perverso e sanguinário e para estimular a fobia coletiva.

3 – Tratar a questão dos ataques de forma leviana

  Os incidentes com os tubarões na Grande Recife começaram após um desequilíbrio ambiental provocado pelo homem, com a construção do Porto de Suape no início da década de 1990, que conjugou fatores locais específicos que aumentaram tremendamente a interação entre o homem e o tubarão e, consequentemente, os riscos de ataque. E, desde então, ataques de tubarão, com mutilações e mortes, passaram a ser um problema real que exigia soluções (foram 15 ataques somente em 1994). E para tratar do problema, pode-se atuar sobre duas pontas: os tubarões ou as pessoas. 
  Ao contrário do Propesca, que agora promove uma insana caçada aos tubarões, como no filme de ficção do Spielberg, o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) fez a escolha certa e de bom-senso __ atuar principalmente sobre as pessoas. Composto por representantes dos mais diversos segmentos da sociedade, o Cemit foi criado pelo Governo do Estado de Pernambuco, em maio de 2004, com o objetivo de discutir, deliberar e implantar ações recomendadas pelos workshops realizados em 1995 e 2004 (do qual participei). Desta forma, o Cemit realizou campanhas educativas, estabeleceu fiscalização, orientação e segurança nas praias e promoveu a pesquisa e o monitoramento dos tubarões.
  Apesar dos interesses conflitantes dos diversos setores da sociedade pernambucana, não obstante o respeito devido aos atacados e seus familiares (conheci alguns nas palestras que ministrei em Recife) e a despeito do Propesca insistir que o risco e o medo aumentaram, os números comprovam que o Cemit fez e continua fazendo um excelente trabalho de esclarecimento e de educação dos surfistas e banhistas, com visíveis resultados na prevenção e queda dos ataques. De 1990 a 2004, foram 46 ataques com 18 fatalidades, o que dá uma média de 3,3 ataques por ano. Depois da criação do Cemit, de 2005 a 2012, houve apenas 9 ataques com 3 fatalidades, configurando uma média de 1,1 ataque por ano.

4 – Oferecer recompensa em dinheiro para a captura de tubarões

  Não sou advogado ou jurista, e por isso não posso afirmar que oferecer recompensa para capturar tubarões é crime ambiental, mas, como cidadão, acredito que seja absolutamente antiético fazer isso. Ainda mais em se tratando de um grupo constituído por pessoas de nível superior. Pessoas que deveriam ser mais esclarecidas e dar bons exemplos. 

5 – Instalar tela de aço ao longo do litoral de Recife

  Se no Estado de Pernambuco foram 55 ataques nos últimos 22 anos, no Estado da Flórida (EUA) ocorreram 500 ataques no mesmo período. Ou seja, dez vezes mais. Mas lá não se vê grupelhos empenhados na eliminação dos tubarões ou na defesa de instalação de redes ou telas de proteção. E por que não?
  Porque redes e telas de proteção são coisas de um passado em que não existia preocupação ou respeito pela vida dos outros seres vivos que nos rodeiam e compartilham o Planeta conosco. Uma época em que se caçava baleia e se matava passarinho. Está mais do que provado que redes e telas de proteção sacrificam inúmeras outras espécies de animais marinhos que nada têm a ver com o problema dos ataques de tubarão.
  Além disso, a tela de aço precisaria ser muito bem vistoriada e conservada ao longo do tempo para evitar a criação de buracos que permitiriam a entrada de tubarões que, posteriormente, percorreriam a praia à procura de uma saída. Ou seja, a tela de aço poderia atuar no sentido oposto, como uma armadilha, aprisionando os tubarões. E, em se tratando de Brasil, as chances de isso acontecer seriam grandes.
  Espero que eu tenha sido capaz de me fazer entender, especialmente para os membros do Propesca. Ainda assim, dois colegas meus, Rosangela Lessa, atual presidente do Cemit, e Francisco Santana, atual presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Elasmobrânquios (Sbeel), ambos professores da UFRPE e altamente conceituados nessa área, talvez possam fazê-los entender melhor do que eu.

Marcelo Szpilmann.

Matéria divulgada pelo Instituto Ecológico AQUALUNG. ---> Link da matéria.

17 comentários:

  1. Só 55 ataques de tubarão em PE desde o ataque ao banhista Ubiratan Martins Gomes na praia da Igrejinha de Piedade 28/JUN/1992 ?
    22 anos? Que dados diferentes do IML-PE e do Corpo de Bombeiros PE são estes? Quem é M. Szpilmann? Onde fica este I. E. Aqualung?

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    1. Não são 55 ataques, mas sim 57. Marcelo Szpilmann é um biólogo marinho líder do Instituto Ecológico Aqualung, o qual tem reconhecimento internacional e é consultado na formulação de políticas conservacionistas.

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    2. Aqui em PE, nós praieiros nunca ouvimos falar nem de M. Szpilmann nem de Instituto Ecológico Aqualung... Nós conhecemos o prof. UFRPE Fabio Hazim que sempre foi o responsável por pesquisas de monitoramento de tubarões nas nossas praias e do CEMIT, Oceanario, Praia Segura que prometeu redes de proteção para nós em 2012. Onde anda o responsável por tudo agora que a REDE GLOBO mostrou o outro lado do problema? É verdade que a polícia vai investigar seguidas denúncias de afogamentos que na realidade foram tubarões?

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    4. Marcelo Szpilmann e o Aqualung são do Rio de Janeiro onde se pesca tubarões de várias espécies todos os dias DENTRO DA LEI VIGENTE, o "filé de cação" é vendido nas peixarias sendo muito apreciado na culinária do Sul e Sudeste. Gostaria de saber "oficialmente do GOVERNO DE PE" por que estão aparecendo tantos haoles falando de nossas praias pernambucanas "defendendo tubarões" matando jovens banhistas em praias pernambucanas abertas ao banho?
      Em 2012, A SOCIEDADE PRAIEIRA PERNAMBUCANA conseguiu provas documentais do IML/PE e do GBMar que houve 3 ATAQUES DE TUBARÃO EM PE 2012 e desta vez o ISAF será notificado oficialmente por outro órgão, já que o grupo que compõe o CEMIT simplesmente não cumpre o ACORDO INTERNACIONAL, pois o Brasil é assinante oficial do ISAF (International Shark Attack File) e deve notificar os constantes ATAQUES DE TUBARÃO EM PE ao ISAF

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    2. Opa, o povo é propesca, vírgula ein!! Num é assim também não...
      Você não devia colocar o povo todo no mesmo balaio que o seu não!!
      Todo mundo tem liberdade de dizer o que pensa, mas generalizar o pensamento é outros 500. Fale por você!!

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    1. Teria como mandar algum artigo científico publicado pelo propesca, algum relatório, plano de ação ou algo do tipo? Gostaria de saber mais sobre a ciência que o propesca pratica.

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    2. Muita gente gostaria de receber algo do tipo também Jaws.

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  6. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Esse foi o melhor!!!

    "Pesquei, pesco, vou continuar pescando DENTRO DA LEI VIGENTE.
    Alugo barco totalmente legalizado, contrato pescadores habilitados, os amigos ENGENHEIROS DE PESCA embarcam, largamos os APARELHOS DE PESCA REGULAMENTADOS na frente da Igrejinha de Piedade, chamo a GRANDE MÍDIA LIVRE DEMOCRÁTICA..."

    Com certeza, você estando dentro da lei, totalmente legalizado... Não tem quem impeça você de pescar.

    Você sabe quais as espécies ameaçada?
    Sabe que mesmo se pescar não intencionalmente uma espécie ameaçada isso é caracterizado um crime ambiental?

    Então boa pescaria!

    Agora vir com blablabla querendo dizer que seu grupo tem fundamento científico... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.

    Seu grupo tem uma ideia, uma teoria... Vocês querem defende-la... Ótimo faça isso! Agora com sanidade, argumentação científica, seriedade...

    E não de forma tão tosca!
    A proposito gostei muito dessa sua foto, ela resume bem isso tudo que eu falei.

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